Reuniões de garimpeiros em Serra Pelada exigem presença da PM
Líder da cooperativa de garimpeiros anda com segurança particular.
Ex-presidente da cooperativa foi assassinado a tiros em 2008.
Policial armado acompanha reunião da Cooperativa
dos Garimpeiros de Serra Pelada (Foto: Vianey
Bentes/TV Globo)
Desde que assumiu a presidência da Cooperativa dos Garimpeiros de Serra
Pelada (Coomigasp), Gessé Simão teve de mudar a rotina. O ex-garimpeiro, que
chegou a Serra Pelada no começo dos anos 1980, não anda mais sem a companhia de
um segurança particular.dos Garimpeiros de Serra Pelada (Foto: Vianey
Bentes/TV Globo)
As reuniões comandadas por Simão na localidade de Serra Pelada são acompanhadas por policiais militares de Curionópolis.
Em 17 e 18 de agosto, o G1 esteve em Serra Pelada e mostra em uma série de reportagens o projeto e a estrutura da nova mina, o cotidiano da localidade e a esperança dos que ainda não desistiram do sonho de encontrar ouro.
As medidas de segurança, segundo ele, são necessárias. O antecessor, Josimar Barbosa, foi assassinado com 13 tiros em maio de 2008, pouco antes de ser firmado o acordo entre a cooperativa e a empresa canadense Colossus, que deverá permitir a a abertura da nova mina de Serra Pelada.
Foi já sob a gestão de Gessé Simão que a Colossus garantiu um aditivo que dá a ela 75% dos lucros da exploração. Desde então, ele vive sob proteção.
“Somos instrumentos de uma sociedade que passou por momentos difíceis. Não
foi fácil [...] Aqui morreu companheiro meu em emboscada. Nossa
sede foi quebrada por vândalos que não queriam que a parceria com a empresa
saísse. O pior já passou, e tudo que conquistamos foi no peito e na raça. Mas é
preciso que a Justiça tenha mais atenção com a gente. Sempre houve ameaças para
mim e minha família, mas a gente procura levar na paz. Eu tenho meus
companheiros que não me abandonam. Eu nunca ando sozinho”, conta Simão.
O principal motivo de divergência entre os garimpeiros de Serra Pelada é a
divisão dos valores a serem arrecadados com a venda do minério.
No início das negociações, em 2008, ficou acertado que 49% dos recursos
obtidos com a venda dos minerais seriam destinados à cooperativa dos
garimpeiros e 51% ficariam com a Colossus.
No contrato final, contudo, os garimpeiros ficaram com 25% do valor, que
precisa ser dividido em partes iguais entre todos os 37 mil associados. Do
total de associados, pelo menos 2,5 mil são moradores da região de Serra
Pelada. Os demais, de outras cidades e estados, que estiveram em Serra Pelada no
começo do garimpo, nos anos 1980.
Segundo a assessoria de imprensa da Coomigasp, a redução de 49% para
25% ocorreu porque havia uma cláusula contratual que determinava que “a
empresa parceira iria investir sozinha até R$ 18 milhões em pesquisas. A partir
daí, o que fosse investido a mais seria dividido entre as partes, conforme as
suas participações. Segundo eles, como a cooperativa não conseguiu fazer os
aportes de contrapartida, o valor foi descontado dos 49% da Coomigasp.
De acordo com a empresa, como o total dos descontos poderia reduzir a
participação da cooperativa a um percentual inferior a 10%, houve uma
negociação, com a participação do Ministério das Minas e Energia, que resultou
em um aditivo ao contrato definindo uma parcela mínima de 25% para a Coomigasp.
Assim, a empresa canadense fica com a maior parte dos recursos obtidos com a
venda do material (75%). O contrato também prevê o pagamento de prêmios para a
cooperativa, de acordo com a quantidade do material extraído.
Dos três minérios que têm extração prevista - ouro, paládio e platina -, o
ouro é o mineral mais valorizado no mercado. A unidade internacional de medida,
a onça troy, equivale a 31,10
gramas de ouro. Para cada ano de exploração da nova mina
de Serra Pelada, a Colossus espera extrair até três toneladas de ouro, o
equivalente a R$ 285 milhões ao ano.
Gessé Simão, presidente da Cooperativa dos
Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp)
(Foto: Vianey Bentes/TV Globo)
Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp)
(Foto: Vianey Bentes/TV Globo)
Pelo estatuto da cooperativa, desde 2005, nenhum novo integrante pode ser
cadastrado. Com isso, somente quem já é sócio da Coomigasp receberá recursos
provenientes da parceria com a empresa.
“Foi um cuidado que o governo teve de exigir que a cooperativa sempre receba
um valor fixo. O ouro tem um problema, que é um minério em forma de moeda.
Tratando-se de uma região como Serra Pelada, em que o clima é tenso, foi a forma
que o governo teve de intervir. Eles não vão ser mais garimpeiros, vão ser
sócios de um empreendimento”, diz o secretário de Geologia, Mineração e
Transformação do Ministério de Minas e Energia, Claudio Scliar.
Enquanto a exploração da mina não começa e o dinheiro não chega aos
garimpeiros, José Rogério Santa Rosa, 49 anos, paga R$ 5 de mensalidade à
Coomigasp. Sem dinheiro nem minério para ser explorado, ele deixou Serra Pelada
e sobrevive vendendo cocadas na beira da rodovia PA-275.
Santa Rosa saiu de Marabá (PA) para a localidade em 1980. Ele espera que a
nova mina possa trazer melhorias e os recursos tão sonhados da mineração.
“Se o contrato for honesto, é claro que a cooperativa vai ser beneficiada. E
eu espero ter a minha parte nisso tudo”, disse o garimpeiro.
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