19 de abril de 2011

Polícia recolhe 3 toneladas de maconha e prende 11 em operação na Rocinha

Chefe do tráfico conhecido como Nem conseguiu escapar. Moradores disseram que houve vazamento

iG Rio de Janeiro | 19/04/2011 08:03 - Atualizada às 17:23


Maconha e material apreendido durante a operação
Foto: Anderson Ramos
Maconha e material apreendido durante a operação

A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu 11 traficantes e recolheu cerca de três toneladas de maconha durante uma megaoperação realizada na favela da Rocinha, em São Conrado, na zona sul, nesta terça-feira (19). Principal alvo da ação, o chefe do tráfico na comunidade, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, conseguiu escapar.
Cerca de 200 agentes de oito delegacias especializadas participaram da ação. A polícia contabilizou um prejuízo de cerca de R$ 3 milhões ao tráfico somente com a apreensão da maconha.
De acordo com o delegado Felipe Curi, da Polinter, parentes de Nem também tiveram mandados de prisão expedidos mas não foram localizados.
Alguns moradores informaram à reportagem do iG que desde ontem já sabiam que iria ser realizada a operação. O vazamento teria ocorrido por policiais militares.
No entanto, segundo a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, não há indícios de um possível vazamento.
"Ainda é muito cedo para se avaliar se houve o vazamento de informação. Mas , só o fato de termos apreendido maconha e veículos roubados, nenhum baleados ou feridos, já é um motivo para se comemorar", afirmou.
Casa de traficante
Durante a operação, os agentes encontraram a casa do traficante Anderson Rosa Mendonça, conhecido como Coelho. Segundo a polícia, ele estava escondido na Rocinha desde fevereiro, quando foi instalada uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no morro São Carlos, no Estácio, região central da cidade.
Mendonça era um dos comandantes do tráfico no morro do São Carlos. A casa estava vazia e o criminoso não foi encontrado. Próximo ao local, os agentes prenderam um homem conhecido pelo apelido de "Miséria", que seria um dos principais integrantes da quadrilha de Coelho.
No total, os agentes foram cumprir 30 mandados, entre eles um contra o líder comunitário Vandelan Barros de Oliveira, conhecido como Feijão, que também não foi achado. Segundo a polícia, Feijão teria ligações com o grupo de Nem e teria negociado a rendição de dez traficantes da Rocinha que invadiram o Hotel Intercontinental.
Os agentes também conseguiram recuperar 42 veículos roubados, desmontaram duas centrais clandestinas de TV a cabo, e fecharam uma fábrica de produtos piratas.
Lavagem de dinheiro
Segundo o delegado  Rafael Willis, diretor da Polinter, um dos objetivos da operação era investigar também empresas legalizadas que seriam usadas para a lavagem do dinheiro do tráfico. Não foram revelados, no entanto, que tipo de negócio que a quadrilha estaria investindo.
“Procuramos prender pessoas ligadas ao tráfico para assim enfraquecer toda a cadeia criminosa”, disse.
No ano passado, uma investigação da Polinter descobriu que o chefão da Rocinha lavou o dinheiro do tráfico em uma casa lotérica, uma distribuidora de gelo, dois bares, uma gráfica, uma loja que vende acessórios de veículos, outra de informática e uma de venda de jornais e revistas. Os empreendimentos estavam em nome de, ao menos, três laranjas.
Mulher de Nem foi procurada

Foto: Reprodução da Internet
Danúbia Rangel, mulher de Nem, é procurada
Outro alvo da operação era mulher de Nem, Danúbia Rangel. Na internet, Danúbia se intitula "A Xerifa da Rocinha" e tem o costume de se exibir com o luxo garantido pelo dinheiro do tráfico. Ela também não foi achada.
Em uma das fotos, ela aparece com um cordão de ouro com a inicial do nome de Nem e se apoiando em um helicóptero.
Blindados
A operação contou com o apoio de dois helicópteros, dois carros blindados da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), e um veículo que recebe imagens das aeronaves e transmite em tempo real a uma base de operações, no heliponto da corporação, na Lagoa Rodrigues de Freitas. Essas imagens, em alta definição, são feitas para localizar bandidos, além de realizar o mapeamento do local.
Assim que os agentes chegaram ao local houve a explosão de fogos de artifício - estratégia usada pelos traficantes para apontar a presença de policiais. Traficantes também queimaram óleo diesel para que a fumaça dificultasse a visibilidade das aeronaves.
Nem
Chefe do tráfico nas favelas da Rocinha e do Vidigal, em São Conrado, Nem é um dos principais líderes de uma quadrilha de traficantes atuante no Rio de Janeiro. Ele assumiu o controle do tráfico na Rocinha juntamente com o traficante João Rafael da Silva, o “Joça”, após a morte do traficante “Bem-te-vi”.

Foto: Divulgação
Antônio Francisco Bonfim Lopes, chefe do tráfico na Rocinha
Segundo a polícia, Nem conquistou moradores da favela ao utilizar uma política assistencialista. Com a prisão de “Joça”,  em outubro de 2008, mudou de estilo e tornou-se violento. Várias mortes são atribuídas ao seu comando.
Atualmente, há cinco mandados de prisão contra o traficante, por crimes como formação de quadrilha, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e homicídio.

*Reportagem de Anderson Dezan, Anderson Ramos e Bruna Fantti

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