Milícia aterroriza moradores de Duque de Caxias, no RJ
Mesmo após prisão dos chefes, milicianos seguem agindo na Baixada.
'Tiram vida de dia, no sol quente, e ninguém toma providência', diz morador.
Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a atuação de uma milícia considerada uma das mais violentas do estado do Rio de Janeiro
tem resultado em assassinatos, torturas e extorsões. Além disso, os
milicianos de Caxias fazem tráfico de drogas e de armas. Os chefes já
estão presos, mas outros integrantes, armados, ainda aterrorizam
moradores, e cobram até por água e comida.
“Eles agem da seguinte forma: exibindo armas nos bolsos e nas cinturas,
extorquindo o morador, espancando e tirando a vida dos outros. Eles
apanham as pessoas dentro de casa, matam, às vezes até dentro de casa.
Tomam casa, expulsando o morador, que não pode falar nada. Eles estão
cheios de imóveis dos outros, que tomaram e estão alugando. Tiram vida
de dia, com sol quente, e ninguém toma providência”, conta um morador do
município, que tem medo de se identificar.
Apesar das prisões dos chefes, os moradores ainda têm medo. “Lá, são
eles que mandam. Não adianta: se gritar, lá, morre. Lá, quem manda são
eles, os vagabundos”, conta o morador. A milícia, de acordo com quem
mora em Caxias, continua agindo. “A milícia continua. A gente está
acuado, querendo uma ajuda. Ninguém mais está aguentando esses caras”
Desde 2010, a polícia e o Ministério Público tentam colocar fim ao
domínio de um grupo de policiais e políticos que impõe regras e
amedronta, ou até mata, quem desobedece.
Foi o que houve com o sargento reformado da Polícia Militar Nelson
Franco Coutinho, assassinado em janeiro de 2011. Imagens feitas por
câmeras de monitoramento, e só divulgadas agora pela polícia, mostram o
momento em que um carro encosta ao lado do veículo do sargento, e os
ocupantes disparam vários tiros. E é sempre assim com todos que tentam
interferir.
A quadrilha já tinha sido presa no fim de 2010, na Operação Capa Preta.
Mas, em novembro de 2011, o desembargador Marcus Quaresma Ferraz
concedeu habeas corpus a 25 acusados. Desde então, houve outras seis
mortes. O promotor de Justiça Décio Alonso Gomes, que acompanhou os
trabalhos da polícia, conta dez testemunhas foram assassinadas. Apenas
duas continuam vivas. A milícia de Caxias surpreende até quem está
habituado a combater esse tipo de crime.
“Eles foram mais ousados. Eles levaram uma testemunha até um cartório,
fizeram ela voltar atrás (no depoimento que havia prestado) em uma
espécie de documento público, com firma reconhecida, e, logo após, essa
pessoa foi morta”, conta Gomes.
Moradores têm que comprar na venda da milícia
As investigações apontaram que os ex-vereadores Jonas Gonçalves da Silva, o Jonas “É nóis”, e Sebastião Ferreira da Silva, o Chiquinho Grandão, que já estão presos, são os chefes da milícia, que atua em 15 bairros de Duque de Caxias.
As investigações apontaram que os ex-vereadores Jonas Gonçalves da Silva, o Jonas “É nóis”, e Sebastião Ferreira da Silva, o Chiquinho Grandão, que já estão presos, são os chefes da milícia, que atua em 15 bairros de Duque de Caxias.
Na hierarquia do crime, abaixo deles estão o ex-PM Eder Fábio
Gonçalves, o Fabinho, e o policial militar Ângelo Sávio Lima. Outros
nove PMs também estão envolvidos, segundo a polícia, além de um
fuzileiro naval e um sargento do Exército.
O bando foi preso novamente, na semana passada, na Operação
Pacificador. Mas para, quem vive na região, as prisões não puseram fim
aos mandos e desmandos da milícia. Moradores contam que ainda têm de
fazer compras na venda indicada pelos criminosos, com preços absurdos. E
mais: toda a vizinhança tem de pagar mensalidade para a milícia até da
água encanada que recebe em casa, sob pena de ter o fornecimento
cortado. “O morador não pode falar nada. Eles cobram R$ 10, por semana,
de cada morador com água”, afirma o morador.
Tráfico paga taxa para milícia
Até o tráfico, segundo a polícia, paga comissão para agir na região. “Eles (os milicianos) cobram de traficantes uma taxa, uma porcentagem, para poderem ter o direito de atuar naquela área. Eu nunca tinha visto isso”, admite o delegado Alexandre Capote, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE). “A Draco-IE já tem uma expertise muito grande em relação ao combate às milícias, mas eu realmente nunca tinha visto isso. É uma grande novidade”, complementa.
Até o tráfico, segundo a polícia, paga comissão para agir na região. “Eles (os milicianos) cobram de traficantes uma taxa, uma porcentagem, para poderem ter o direito de atuar naquela área. Eu nunca tinha visto isso”, admite o delegado Alexandre Capote, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE). “A Draco-IE já tem uma expertise muito grande em relação ao combate às milícias, mas eu realmente nunca tinha visto isso. É uma grande novidade”, complementa.
“O próprio miliciano trafica drogas. Só pode vender a droga deles
naquela área, na localidade. Se um viciado for buscar drogas em outro
local, eles matam na hora, sem pena nenhuma”, afirma o morador.
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