4 de maio de 2011

Lúcia Veríssimo: "A Globo perdeu o interesse em mim"

Estrela de "Amor e Revolução", atriz fala do passado na emissora carioca, de suas manias - ela não entra em carro branco - e se diz um 'ser sexual'.

Marília Neves, iG São Paulo | 04/05/2011



Foto: Claudio Augusto
Lúcia Veríssimo: "Não tenho interesse em saber da vida alheia"
Lúcia Veríssimo está de volta à rotina diária da TV. Há cinco anos afastada das novelas - tempo em que se revelou uma dramaturga de sucesso - ela retoma agora a carreira em frente às camêras no SBT, em "Amor e Revolução". "A Globo mudou muito de um tempo para cá e não me adaptei a essas mudanças. Perdeu o interesse em mim, assim como eu também perdi o interesse nas coisas que eu via", diz ela sobre a mudança de emissora em entrevista exclusiva ao iG Gente.
Além de "Amor e Revolução" - em que vive a jornalista Jandira - a atriz também protagoniza a peça "Usufruto", que ela escreveu, comanda uma fazenda onde produz feijão, milho, frutas, legumes, tem uma cachaça de grife e ainda está à frente da Canela Produções.
Numa conversa pautada por muita sinceridade, Lúcia fala sobre suas manias, que ela tem aos montes, de rótulos sobre sua sexualidade e de sua aparência, que camufla e muito seus 52 anos: "Não adianta perguntar `o que você faz?´. Eu não faço agora, faço desde os 20 anos de idade.Tomo três gramas diárias de vitamina C, não como carne há 32 anos, não tomo sol desde os 22 anos, passo cremes pra caramba, cuido muito da minha pele. Não sou contra cirurgias plásticas, só sou contra botox. Um ator ficar sem sua musculatura funcionando é muito louco. Mas que os outros façam, é problema de cada um. Não estou aqui para cuidar da vida de ninguém".


Foto: Claudio Augusto
'Sou uma contadora de causo de nascença'


iG Gente: Depois de tanto tempo na Globo, porque decidiu quebrar o contrato?
Lúcia Veríssimo: Não foi uma decisão só minha, foi nossa. A Globo mudou muito de um tempo para cá e não me adaptei a essas mudanças. Sou canceriana, conservadora. A atual Globo perdeu o interesse em mim, assim como eu também perdi o interesse nas coisas que eu via. Tenho um profundo carinho pela Globo. É uma relação muito familiar, mas enfim, essas coisas acontecem...

iG Gente: Essa relação tem volta?
Lúcia Veríssimo: Sou uma mulher que trabalha. Todas as vezes que me propuserem um trabalho que seja interessante, vou aceitar. Não estava pensando em fazer televisão tão cedo. Eu mesma não assisto novela há muitos anos, as últimas foram “Roque Santeiro”, “Saramandaia” e “Dancing Days”, que era incrível, a gente não saía de casa enquanto não acabasse. Mas me fizeram uma proposta diferenciada, que me deixou amarradona.

iG Gente: “Amor e Revolução” fala do tempo da ditadura. Onde você estava em 1968?
Lúcia Veríssimo: Sou de uma família de esquerda, de telefones grampeados, pessoas presas ao redor, eu tinha plena noção do que acontecia o tempo inteiro. Me informaram que vão diminuir as cenas de tortura na novela, porque as pessoas estão reclamando. Quer dizer, até hoje querem colocar vendas nos olhos e não ver o que realmente aconteceu.



Foto: Divulgação
A atriz em ''Esperança'' (2002), na polêmica peça ''Usufruto'',
atualmente em cartaz,''América'' (2005) e em participação especial no
programa ''Linha Direta''(2006)

iG Gente: Como tem sido para a equipe da novela relembrar esses momentos?
Lúcia Veríssimo: Sabe que meu pai, logo que estreou a novela, me ligou e disse: “Estou com tanta raiva da novela, porque estou assistindo e está voltando tudo dentro de mim. A cada dia tenho mais orgulho de você pelas escolhas que você faz”. Isso, pra mim, é muito melhor que ter 40 pontos de Ibope e não estar falando p**** nenhuma para ninguém.

iG Gente: É melhor de que ponto de vista?

Lúcia Veríssimo: Do ponto de vista intelectual. Isso é você contar a história do Brasil, e uma história que ninguém nunca quis colocar para fora do tapete em que esconderam a sujeira. Óbvio que se ainda por cima tivéssemos 40 de Ibope, seria o ideal. Mas entre ter 6 pontos de Ibope e dizer alguma coisa ou fazer uma coisa qualquer que dá 40, eu prefiro isso aqui. Já experimentei muitos anos protagonizando novelas de muito sucesso.

iG Gente: Em “Usufruto”, sua peça, você se envolve com um cara mais novo; na novela, tem um jovem que está apaixonado por você. Na sua vida, você também prefere pessoas mais novas?
Lúcia Veríssimo: Nãããão, definitivamente não. Sempre me relacionei com pessoas mais velhas do que eu. Mas é engraçado que isso está acontecendo em todos os lugares da minha vida.
iG Gente: Você está namorando?
Lúcia Veríssimo: Estou solteira, pois não estou casada. Mas estou namorando há alguns meses.
iG Gente: Pode falar quem é?
Lúcia Veríssimo: Não falo nada. Sou muito fechada. Apenas estou namorando. Está difícil de namorar... Temos que lidar com muitas viagens, trabalhos, horários, agendas complicadas de ambos os lados.


Foto: Claudio Augusto
Lúcia Veríssimo em duas capas da revista masculina Playboy, em 1998 e 1993


iG Gente: Você costuma dizer que não é bissexual nem homossexual, e sim que você é sexual.
Lúcia Veríssimo: Não gosto de rótulos, acho que engarrafar qualquer coisa é ridículo. Em segundo lugar, não vejo sexo dessa forma, acho que isso é uma simples nomenclatura inventada por Freud para poder colocar cada um no seu lugar. Se nos preocupássemos em sermos o que somos realmente, seres sexuais, a gente não teria metade dos problemas que tem. As pessoas são hipócritas, isso me irrita profundamente.

iG Gente: Você tem uma posição aberta sobre sexualidade. O que o público não sabe sobre você?
Lúcia Veríssimo: Eu sou muito fechada, mas tudo que faço, faço abertamente. Por exemplo, eu lutei minha vida inteira. Não faço luta para brigar, sou totalmente contra lutar fora do ringue, mas me defendo quando é preciso. Tive de dar uma porrada em um pit-bull que quis mostrar camisetinha, cabelo raspado, todo tatuado, machista. Quis destratar uma mulher e a mim mesma. Isso eu não vou admitir.

iG Gente: E sobre suas manias, você fala?
Lúcia Veríssimo: Tenho todas as manias possíveis e imagináveis! Por exemplo, não entro em carro branco. Em São Paulo tenho um problema danado com táxi. Mas, para falar a verdade, não gosto de pegar táxi, eu tenho nojo. Sou enjoada com higiene. Só durmo do lado direito da cama, só tomo banho frio, mesmo no inverno. Ih, tem muita manias... Não pode deixar porta de armário aberto nunca. Usei o mesmo perfume de 1978 até dois meses atrás. Estou tentando mudar de cheiro.

iG Gente: É uma meta, de repente, ter menos uma mania?
Lúcia Veríssimo: É, eu acho que quando a gente vai ficando mais velho, se a gente continuar com todos os hábitos da vida inteira, vai envelhecendo mais rápido. Estou seriamente inclinada a fazer algumas modificações, a perder algumas manias, quem sabe inventar outras, mas abrir mão de algumas coisas que estão muito enraizadas. E eu sou lutadora, destemida, revolucionária, não me acomodo com nada.


Foto: Claudio Augusto
Lúcia Veríssimo: ''eu sou lutadora, destemida, revolucionária,
não me acomodo com nada''

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